sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Itacaré: Turismo Étnico de Base Comunitária ajuda a mostrar o que a cidade tem de melhor, seu povo.

Itacaré é uma cidade conhecida como um dos principais destinos turísticos do país e há anos sua economia é fundamentada nos serviços prestados aos visitantes que chegam do mundo inteiro. Uma grande parcela desses turistas chega com a intenção de conhecer as manifestações artísticas afro-brasileiras e a cultura local, porém os roteiros turísticos oferecidos na cidade costumam ser feitos de por uma programação superficial e apressada, que não valoriza de fato a riqueza da cultura daquela comunidade. Dessa forma, o turista não tem contato com a realidade, com as pessoas da comunidade que ele deseja conhecer.

O turismo convencional, além de afastar definitivamente o visitante das populações locais, representa uma decadência de produção cultural, pois não valoriza a ancestralidade. A aculturação em larga escala é o seu principal fruto, pois a população local, principalmente os mais jovens, passa a desejar atingir o padrão de vida que assiste nos visitantes, mas que não representa a realidade na qual está inserido. Acabam abandonando seu modo de vida tradicional para se inserirem em empreendimentos que não trazem nenhum benefício social, econômico e cultural. As oportunidades de trabalho que surgem são de subemprego, cuja renda não resolve dignamente sua demanda de sobrevivência, e ainda sucumbe toda a sua cultura, sua ciência e seu saber tradicional.

Numa tentativa de ir contra esta forma de exploração, foi criado o modelo de Turismo Étnico de Base Comunitária – TEBC – que preza pela troca de conhecimentos e experiências, redirecionando a atividade turística para a perspectiva de compartilhamento de saberes, de histórias de vida e de comunidade. O TEBC também ajuda a unir as pessoas a seu passado em, valorizando suas raízes em vez de se envergonharem delas .

Nesse contexto destaca-se o trabalho da Casa do Boneco em Itacaré, que é uma associação de afro desenvolvimento, voltada para a manutenção das culturas e saberes de matrizes africanas e para a elevação da autoestima da comunidade afrodescendente. Os trabalhos realizados na Casa do Boneco aliam identidade cultural, inclusão socioeconômica e sustentabilidade a partir de um esforço de apropriação da educação popular e da capacitação profissional.


A proposta da Casa do Boneco é de uma revisar a história e o pensamento da população negra, organizar a produção coletiva, a reintegração social, promover o desenvolvimento local. Os núcleos de ações da entidade são compostos por pessoas de todas as idades engajadas nas ações de desenvolvimento afro social para a comunidade negra, principalmente quilombola.

A Casa do Boneco é uma entidade sem fins lucrativos que desde 1988 está aberta à comunidade. Cotidianamente acontecem ensaios de danças, percussão, capoeira, aula de informática, rodas de conversas, estudos, entre outras oficinas, shows e intervenções diversas. É um espaço de educação popular e entretenimento que vem combatendo a marginalidade e a exploração sexual dos jovens, tão evidente neste litoral turístico.

O programa de sustentabilidade comunitária é voltado para jovens e adultos negros, fortalecendo o saber tradicional com visão empreendedora, usando como ferramentas a apropriação de técnicas produtivas diversas e a comercialização a partir do Turismo Étnico de Base Comunitária.
Para gerar este receptivo turístico, a Casa do Boneco construiu a Fazenda Modelo Quilombo D’Oiti. A Fazenda configura o primeiro roteiro de turismo étnico comunitário rural do Sul da Bahia e um dos primeiros do Brasil. Inaugurada em 29 de janeiro de 2012, a fazenda já atende grupos diversos e repercute como um dos melhores destinos étnicos do país. A Fazenda Modelo Quilombo D’Oiti tem como missão assegurar uma sociedade antirracista e mais humanizada, com a possibilidade de melhores condições de cidadania territorial, relacionada a garantia de trabalho e renda, educação, liberdade de expressão, e processos participativos de decisão da vida comunitária.

O roteiro conta com passeios relaxantes e descontraídos, onde o visitante tem tempo de sobra para entrar em contato com a natureza e com as pessoas. A culinária na hora do almoço traz os sabores e temperos

da gastronomia quilombola. Travessias de canoa, trilhas e oficinas também fazem parte do roteiro, que é cumprido de forma livre, proporcionando ao visitante um maior contato com a comunidade e, consequentemente, maior aprendizado.

Os shows e apresentações no Quilombo D’Oiti contam com produção autônoma de roupas e adereços, instrumentos e coreografias baseadas no aprendizado interno e em trocas com outros grupos de cultura e danças africanas e afro-brasileiras. São apresentações ao vivo, com coreografias de dança dos orixás, danças folclóricas, samba de roda, maculelê, puxada de rede, além de óperas inéditas criadas internamente como “A Morte do Rei Guerreiro” e “Diário de Fêmea”.

Tudo isso, em meio a toda a paisagem exuberante da natureza, Itacaré é, sem dúvida, um lugar onde vale muito a pena conhecer a fundo, e não apenas se limitar ir às praias e aos bares da cidade. Conhecer Itacaré pode ser muito mais do que um passeio, pode ser uma experiência que, com certeza, não irá se resumir a apenas belas fotografias.

Fonte: Informe Ipiaú.

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