sábado, 29 de setembro de 2012

Itacaré: FHI - Fundação Hospitalar em pauta.

''Somos desprovidos de um hospital público que atenda nossos direitos mais básicos. A comissão interventora avançou em sua atuação, garantindo que o hospital não fechasse as portas, mas continua precisando de apoio e doações. Itacaré está longe de ter garantido um atendimento de saúde hospitalar minimamente satisfatório.'' Sabe-se que uma Fundação hospitalar não é um “Hospital”... Mas qual a verdadeira diferença entre um hospital e uma Fundação que exerce o papel de hospital?
Nice Vidal: Essa colocação de que não é um hospital não é verdade. É um hospital sim, só não é da prefeitura. Ou seja, esta Fundação não é um hospital do município (é da COMUNIDADE). O que temos com a Prefeitura é uma parceria que se responsabiliza pelo pagamento dos sete médicos que dão plantões de 24horas (1 médico por dia da semana), e outras despesas básicas tendo em vista os poucos recursos que recebemos via SUS. Gostaria de ressaltar que esta parceria é fundamental para a continuidade do funcionamento da FHI. A Fundação segundo seu estatuto, ‘’é a pessoa jurídica de direito privado, direito privado, dotada de autonomia administrativa e financeira, com patrimônio próprio, sem fins lucrativos’’. Antes tinha o nome de’’ Associação de proteção à Maternidade e Infância de Itacaré’’ que foi criada em 1969 por mães que viam a dificuldade de ter um filho aqui na cidade. A parir de 18 de abril de 1993 foi instituída como FHI – FUNDAÇÃO HOSPITALAR DE ITACARÉ.
Há algum tempo existia uma placa aqui na FHI proibindo o atendimento as pessoas de Maraú. Como uma fundação hospitalar pode restringir atendimento a alguém seja lá de que origem ela for, principalmente se esse sistema de atendimento for baseado do Sistema de Saúde Universal, já que uma pessoa não escolhe ficar doente, nem onde, nem quando?
Nice Vidal: Não é que não atendemos pessoas de Maraú, agente atendeu e continua atendendo caso de urgência e emergência. O que estava acontecendo, é que algumas regiões que pertencem a Maraú são mais perto daqui, então foi uma conveniência das pessoas virem receber atendimento aqui. Nós queríamos no mínimo uma contrapartida da prefeitura de Maraú e fizemos um milhão de tentativas procurando o DR Ernani que é o secretário de Saúde de Maraú. Para cada atendimento é uma série de gastos: luva. Seringa, soro, roupa de cama. Na maioria das vezes eles jogavam as pessoas aqui e pronto. Dependendo do caso ainda tem que transportar pra Ilhéus. Eles não tinham preocupação nenhuma, então esse bloqueio foi mais pra que eles se conscientizassem. Mas de forma alguma nós íamos deixar de atender ninguém. Já vieram partos de emergências e nós atendemos! Nós mandamos um ofício depois de diversas tentativas de contato sem sucesso. Pedimos um aporte financeiro já que na época os atendimentos a pessoas dessa localidade chegavam a 377. Só queríamos que eles acordassem, mas infelizmente não houve acordo.
Atualmente, quais são as principais deficiências da Fundação?
Nice Vidal: A Fundação está passando por uma administração atípica desde que foi fundada como associação. Dentro do estatuto está previsto de que a diretoria é escolhida pelos associados . Então as pessoas se associavam pagando uma taxa por mês. A cada dois anos os associados elegiam através de voto a diretoria. Só que chegaram várias denuncias até o Ministério Público : Da vigilância Sanitária, Da Secretaria de Saúde do Estado. Até que o Ministério Público chegou a conclusão de que o Hospital deveria fechar por que não tinha mais condições de estar funcionando. Falavam por exemplo da lavanderia, da sala de partos e davam um prazo pra resolver essas irregularidades. Quando eles voltavam além do que não tinha sido feito, encontravam ainda mais problemas. Chegou a um ponto que eles mesmos pediram pra fechar, pois as condições estavam insalubres. Na época a promotora Drª Aline falou : ‘’Como fechar o hospital de Itacaré? Se o hospital mais próximo está em taboquinhas ,que esse sim é da prefeitura. A 80km. Como fechar o hospital da sede?’’ Então ela convocou a sociedade civil para que algumas associações que quisessem, fizessem parte da nova diretoria. Foram escolhidas sete, que hoje são responsáveis pela administração do hospital. O Juiz criou uma ação civil pública e no dia 06/10/2010, decretando o afastamento daquela diretoria e nomeou a comissão interventora por um ano, prorrogado por mais um ano. A rescisão será no dia 6 de outubro de 2012, termina agora neste ano. Estamos nesse meio tempo tentando juntamente ao Ministério Público ver o que eles vão decidir, por que a Fundação tem que voltar a ser administrada normalmente, sem a comissão.
Qual o principal papel da comissão interventora?
Nice Vidal: É justamente tentar fazer com que o hospital não feche. Desde 2004 a fundação funcionava sem o alvará da vigilância sanitária.Então quando a comissão interventora assumiu , a primeira medida foi fechar a lavanderia – que estava em situação de insalubridade – e terceirizá-la. Hoje a roupa é toda lavada por uma empresa que é especializada em lavagem de roupa hospitalar.A maior dificuldade da fundação é a financeira. A renda que agente recebe do SUS é muito pouca. Nós criamos o programa Amigos da Fundação, para as pessoas da comunidade e empresários que queiram fazer doação. Felizmente muita gente tem nos ajudado. O custo é muito alto e a entrada é pequena, as doações nos ajudam muito – espero que essa matéria também nos ajude a mobilizar o máximo de doações. Exemplificando: por um atendimento de urgência recebemos APENAS R$ 11,00; por um hemograma completo, APENAS R$ 4,11; dentre outros procedimentos que têm um repasse muito abaixo dos custos (mão-de-obra, energia, água, medicamentos, materiais, lavanderia, alimentação,etc)
E quais são os principais avanços que a equipe interventora conseguiu realizar?
Nice Vidal: Essa parte de terceirizar a lavanderia foi primordial. Conseguimos isolar a parte administrativa. Antes as pessoas eram atendidas dentro do hospital estando sujeitos a uma infecção hospitalar. Agora quem chega não precisa ter acesso ao local onde as pessoas ficam internadas. A sala tem ar condicionado e a pessoa é atendida com mais conforto. Já temos banheiros externos também, conseguimos ainda colocar o desfibrilador (Equipamento utilizado na parada cardiorrespiratória). Houve uma economia muito grande no hospital na área de compra de medicamentos. Nós comprávamos medicamentos em uma fábrica de Eunápolis e agora conseguimos comprar mias barato em uma fábrica de Goiás. Já ouvimos comentários do tipo: ‘’ Ah, não estão valorizando o comércio local.’’ Mas óbvio que um hospital não pode pagar o mesmo preço em um remédio que eu e você pagamos!
Tivemos economia também com a conta d’água que antes chegava de R$2.000 à R$3.000 por que havia muito vazamento, resolvemos os problemas e compramos dois tanques de 3 mil litros cada um. Tivemos que diminuir a folha de pagamento, retirando algumas pessoas que infelizmente levaram para o lado pessoal, mas em momento algum houve perseguição a ninguém, muito pelo contrário, só tivemos que priorizar quem atende, que são os médicos, os enfermeiros e os técnicos. Apesar de existir uma dívida antiga de 400.000,00, desde que assumimos pagamos rigorosamente o INSS de todos os funcionários.
Com frequência há reclamações do atendimento no hospital, principalmente o atendimento noturno. É comum, por exemplo, as pessoas chegarem ao hospital durante a noite e estar tudo fechado e as pessoas estarem dormindo e virem atender com mal humor, com arrogância como se estivessem incomodando.
Nice Vidal: Vou responder essa pergunta com uma frase antiga: ‘’Se nem Jesus Cristo agradou a todos quanto mais nós pobres mortais’’. Obviamente defeitos não vão faltar. O que nós pedimos aos funcionários do hospital é que sigam uma frase que temos espalhada pelo prédio; ‘’Respeitem para serem respeitados’’. E também temos um livro de sugestões e reclamações, como eu não fico aqui 24 horas não dá pra saber o que acontece aqui o tempo todo.
O que eu peço é que as pessoas usem esse livro na recepção, todas as pessoas tem direito a ele, escreva, mas especifique o que aconteceu, onde e com quem (o nome do funcionário). É muito difícil monitorar, mas as poucas pessoas que registraram essa reclamação nós procuramos saber e advertimos o funcionário. Garantir pra você que isso não acontece eu não posso, mas fico muito triste em saber disso. A gente pede a todos os funcionários para tratarem bem todo mundo! Tem gente que confunde as coisas, o hospital só tem estrutura para atender urgência e emergência. Infelizmente só temos um médico por dia que atende 24 horas todo tipo de serviço. Muitas vezes os médicos não tem tempo de descansar, aí ele vai pro quarto descansar na metade de sua longa jornada, logo em seguida chega alguém, então a instrução que as pessoas que ficam aqui tem é: ‘’É melhor deixar ele descansar um pouco até pra ele vir com a cabeça melhor! ‘’ Ele é um ser humano! Outro dia tinha uma senhora gritando por que o neto dela estava com febre e ela já estava esperando há 15 minutos, mas o médico estava fazendo uma sutura em um homem que chegou cortado. Ele apareceu com a mão cheia de sangue e falou: ‘’Senhora eu estou com um rapaz todo cortado lá dentro, e quanto mais a senhora gritar mais tempo eu vou demorar!’’ Então algumas dessas pessoas não entendem o funcionamento do hospital.
Já que a equipe interventora administra as contas, as burocracias e as demandas urgentes da infraestrutura, quem fica responsável quanto á qualidade do atendimento?
Nice Vida: Olha a Comissão interventora é um trabalho voluntário. O Walbert Alcoforado Da Silveira – Diretor Técnico, ele é médico e diretor técnico então essa parte da qualidade no atendimento quem cuida é ele.
Se a fundação hospitalar não é da competência do município e o hospital de Taboquinhas é um grande elefante branco, que não atende rela necessidade de nosso município, isso pode significar que nos usurparam o nosso direito à saúde e ao atendimento universal?
Nice Vidal: Não posso responder essa pergunta.

1 comentários:

fagner queiroz santana disse...

COM TODA ESSA DISCUSSÃO, EU SEI QUE MINHA MULHER ESTÁ NOS DIAS DE DAR A LUZ E FOMOS INFORMADO POR TELEFONE QUE HOJE, 29/09/2012, NÃO TEM MÉDICO E PROVAVELMENTE NÃO TERÁ AMANHÃ. SÓ SEI QUE ALGUÉM TEM A ASSUMIR A RESPONSABILIDADE, OU NÓS QUE PAGAMOS OS NOSSOS IMPOSTOS E NÃO COBRAMOS, OU QUEM RECEBE O IMPOSTOS E NÃO REPASSA PRA COMUNIDADE
MEU FILHO QUER NASCER, COITADO, ELE ESTÁ ALHEIO A TUDO ISSO.

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